quarta-feira, 2 de março de 2016

Estudo dos tempos e movimentos X Gestão de Processos


O trabalho e o ser humano são mais conectados do que se pensa. O próprio Deus, ao criar Adão, diz o texto bíblico, o colocou no Jardim do Éden para o lavrar. Primeira conclusão: o homem foi criado para trabalhar. Entretanto, alguém um dia disse que o trabalho era uma maldição. Isso porque, quando o homem pecou, dentre outras coisas, Deus lhe anunciou que a partir daquele instante ele passaria a comer do suor do seu rosto. Dito isso, alguém aí do outro lado diria: “Isso mesmo, Juliana! Deus amaldiçoou o trabalho!” não, meu caro! - Eu lhe responderia – Deus não amaldiçoou o trabalho, mas sim comunicou ao homem que ele se tornaria mais árduo. Doutra forma, se tal assertiva fosse verdadeira, então Deus teria, de igual maneira, amaldiçoado o ato de procriar, uma vez que Ele disse a mulher que multiplicaria sua conceição e com dores esta passaria a dar a luz.

Discussões teológicas à parte o fato é que o trabalho demorou um considerável interstício de tempo para voltar a ser visto como algo nobre (recomendo a leitura da obra “A ética protestante é o espírito capitalista” bem como as demais teses de Marx acerca do valor e da figura do trabalho na vida do homem) e assim ter sua valoração estendida à pessoa do trabalhador. Paralelo a isso nasceu a preocupação com as maneiras pelas quais o trabalho é realizado e é aí que se inicia nosso estudo. A gestão e o mapeamento de processos é hoje o que se tem de mais moderno quando o assunto é a análise da cadeia produtiva no todo ou em parte e cabe aqui então um comparativo com um antepassado: o estudo dos tempos e movimentos.

Os primeiros estudos sobre os movimentos foram feitos nos idos de 1729, entretanto, o que se conhece como EMT (Estudos dos Tempos e Movimentos) começou mesmo pelas mãos do norte-americano Frederic W. Taylor, o pai da Administração Científica.

O EMT visa à racionalização do trabalho e o alcance da otimização da relação tempo-esforço, procurando identificar os melhores movimentos, bem como o menor espaço de tempo empregado na execução de uma tarefa. A gestão de processos, por sua vez, é um conjunto de ações sistemáticas, baseadas em fatos e dados, que permite manter estável a rotina e favorece a implementação de melhorias e é principalmente por intermédio desta última que as duas ferramentas se assemelham: Taylor entendia que, ao evitar que o trabalhador fizesse um movimento inútil durante a execução de seu trabalho, evitaria o desperdício de certa fração de tempo e essa economia resultaria de igual forma, na eliminação da fadiga. Tal cuidado também contribuía para o aumento da eficiência e da produtividade. Na Gestão de Processos, as tarefas são interligadas e sucessivas, tendo seu início e fim bem definidos, com vista a melhores resultados. Importante salientar que cada etapa do processo em questão tem que, obrigatoriamente, agregar valor ao todo.

Para um melhor entendimento do que isso significa, vejamos uma diferença entre as duas ferramentas, apesar de estarmos estudando suas semelhanças: o EMT advém de uma visão tradicional cujo foco era o chefe, o comando, a hierarquia, a autoridade ao passo que na Gestão de Processos o foco é o cliente, considerando todos os envolvidos. Em outras palavras, se determinada fase de um processo for entendida como algo que não agrega valor ao cliente, esta é imediatamente descartada. Na Administração Científica, onde o EMT era aplicado, não há lugar para desperdícios, seja eles de ordem temporal ou física. Na Gestão de Processos, por sua vez, o consumidor final do produto ou serviço é o que importa. A redução de custos (assim como sua prevenção) também é uma preocupação, tal como na Administração Científica.

Interessante também é que na visão tradicional, a liderança não era considerada, apesar da ênfase que se dava à autoridade, à cadeia de comando. A Gestão de Processos considera as pessoas como elemento principal da execução de cada fase processual, implicando essa consideração na valorização social do colaborador. A Administração Científica enxergava os operários como meros executores; como peças do maquinário pelos quais eram responsáveis (visão homo economicus).

Por fim, apresentemos um quadro comparativo das duas metodologias:



EMT

GESTÃO DE PROCESSOS

Especialização do trabalhador e Padronização do trabalho;


Divisão do trabalho/necessidade de integração

Melhor resultado/ mais economia


Melhoria contínua e mudança por ruptura

Observação e registro;


Tecnologia da Informação e potencialização

À guisa de conclusão,  vimos que o trabalho e o homem são mais conectados do que se imagina. Vimos também, ainda que superficialmente, que a relação trabalhador X trabalho evoluiu ao longo dos anos, não tendo afastado por completo, evidentemente, os líderes atuais do modelo senhor de engenho-feitor-escravo, largamente utilizado nas relações de subordinação, e nesse sentido vê-se que ainda há um extenso caminho a se percorrer, todavia não há o que se discutir com relação a tudo quanto já conquistado pela classe.


Em paralelo, vislumbramos que a preocupação com as maneiras pelas quais o trabalho é realizado deu origem aos primeiros estudos sobre os movimentos, datado das décadas iniciais do século XVIII, com destaque para os trabalhos do engenheiro norte-americano Frederic W. Taylor. A Administração Científica enxergava os operários como meros executores e o Estudo dos Tempos e Movimentos foi concebido em meio à vigência desta teoria cujo foco era o chefe, o comando, a hierarquia, a autoridade, em contraste à Gestão de Processos, focada no cliente, sem desprezar os demais envolvidos. Entretanto, a aparente sensação de que as duas modalidades pertencem a pólos opostos, suas semelhanças ficam mais que evidentes no quadro comparativo aqui exposto e assim consumamos o entendimento de que o Estudo dos Tempos e Movimentos e a Gestão de Processos possuem uma relação de parentesco, com muito ainda a contribuir para o enriquecimento da ciência administrativa.

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