O trabalho e o ser humano são mais conectados do que se pensa. O próprio
Deus, ao criar Adão, diz o texto bíblico, o colocou no Jardim do Éden para o
lavrar. Primeira conclusão: o homem foi criado para trabalhar. Entretanto,
alguém um dia disse que o trabalho era uma maldição. Isso porque, quando o
homem pecou, dentre outras coisas, Deus lhe anunciou que a partir daquele
instante ele passaria a comer do suor do seu rosto. Dito isso, alguém aí do
outro lado diria: “Isso mesmo, Juliana! Deus amaldiçoou o trabalho!” não, meu
caro! - Eu lhe responderia – Deus não amaldiçoou o trabalho, mas sim comunicou
ao homem que ele se tornaria mais árduo. Doutra forma, se tal assertiva fosse
verdadeira, então Deus teria, de igual maneira, amaldiçoado o ato de procriar,
uma vez que Ele disse a mulher que multiplicaria sua conceição e com dores esta
passaria a dar a luz.
Discussões teológicas à parte o fato é que o trabalho demorou um
considerável interstício de tempo para voltar a ser visto como algo nobre
(recomendo a leitura da obra “A ética protestante é o espírito capitalista” bem
como as demais teses de Marx acerca do valor e da figura do trabalho na vida do
homem) e assim ter sua valoração estendida à pessoa do trabalhador. Paralelo a
isso nasceu a preocupação com as maneiras pelas quais o trabalho é realizado e
é aí que se inicia nosso estudo. A gestão e o mapeamento de processos é hoje o
que se tem de mais moderno quando o assunto é a análise da cadeia produtiva no todo
ou em parte e cabe aqui então um comparativo com um antepassado: o estudo dos
tempos e movimentos.
Os primeiros estudos sobre os movimentos foram feitos nos idos de 1729,
entretanto, o que se conhece como EMT (Estudos dos Tempos e Movimentos) começou
mesmo pelas mãos do norte-americano Frederic W. Taylor, o pai da Administração
Científica.
O EMT visa à racionalização do trabalho e o alcance da otimização da
relação tempo-esforço, procurando identificar os melhores movimentos, bem como
o menor espaço de tempo empregado na execução de uma tarefa. A gestão de
processos, por sua vez, é um conjunto de ações sistemáticas, baseadas em fatos
e dados, que permite manter estável a rotina e favorece a implementação de melhorias
e é principalmente por intermédio desta última que as duas ferramentas se
assemelham: Taylor entendia que, ao evitar que o trabalhador fizesse um
movimento inútil durante a execução de seu trabalho, evitaria o desperdício de
certa fração de tempo e essa economia resultaria de igual forma, na eliminação
da fadiga. Tal cuidado também contribuía para o aumento da eficiência e da
produtividade. Na Gestão de Processos, as tarefas são interligadas e
sucessivas, tendo seu início e fim bem definidos, com vista a melhores
resultados. Importante salientar que cada etapa do processo em questão tem que,
obrigatoriamente, agregar valor ao todo.
Para
um melhor entendimento do que isso significa, vejamos uma diferença entre as
duas ferramentas, apesar de estarmos estudando suas semelhanças: o EMT advém de
uma visão tradicional cujo foco era o chefe, o comando, a hierarquia, a
autoridade ao passo que na Gestão de Processos o foco é o cliente, considerando
todos os envolvidos. Em outras palavras, se determinada fase de um processo for
entendida como algo que não agrega valor ao cliente, esta é imediatamente
descartada. Na Administração Científica, onde o EMT era aplicado, não há lugar
para desperdícios, seja eles de ordem temporal ou física. Na Gestão de
Processos, por sua vez, o consumidor final do produto ou serviço é o que
importa. A redução de custos (assim como sua prevenção) também é uma
preocupação, tal como na Administração Científica.
Interessante
também é que na visão tradicional, a liderança não era considerada, apesar da
ênfase que se dava à autoridade, à cadeia de comando. A Gestão de Processos
considera as pessoas como elemento principal da execução de cada fase
processual, implicando essa consideração na valorização social do colaborador.
A Administração Científica enxergava os operários como meros executores; como
peças do maquinário pelos quais eram responsáveis (visão homo economicus).
Por
fim, apresentemos um quadro comparativo das duas metodologias:
EMT
|
GESTÃO DE PROCESSOS
|
Especialização do
trabalhador e Padronização do trabalho;
|
Divisão do trabalho/necessidade de
integração
|
Melhor resultado/ mais economia
|
Melhoria contínua e mudança por ruptura
|
Observação e registro;
|
Tecnologia da Informação e potencialização
|
À
guisa de conclusão, vimos que o trabalho
e o homem são mais conectados do que se imagina. Vimos também, ainda que
superficialmente, que a relação trabalhador X trabalho evoluiu ao longo dos
anos, não tendo afastado por completo, evidentemente, os líderes atuais do modelo
senhor de engenho-feitor-escravo, largamente utilizado nas relações de subordinação,
e nesse sentido vê-se que ainda há um extenso caminho a se percorrer, todavia
não há o que se discutir com relação a tudo quanto já conquistado pela classe.
Em
paralelo, vislumbramos que a preocupação com as maneiras pelas quais
o trabalho é realizado deu origem aos primeiros estudos sobre os movimentos,
datado das décadas iniciais do século XVIII, com destaque para os trabalhos do
engenheiro norte-americano Frederic W. Taylor. A Administração Científica enxergava
os operários como meros executores e o Estudo dos Tempos e Movimentos foi
concebido em meio à vigência desta teoria cujo foco era o chefe, o comando, a
hierarquia, a autoridade, em contraste à Gestão de Processos, focada no
cliente, sem desprezar os demais envolvidos. Entretanto, a aparente sensação de
que as duas modalidades pertencem a pólos opostos, suas semelhanças ficam mais
que evidentes no quadro comparativo aqui exposto e assim consumamos o
entendimento de que o Estudo dos Tempos e Movimentos e a Gestão de Processos
possuem uma relação de parentesco, com muito ainda a contribuir para o
enriquecimento da ciência administrativa.
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