Com o rubro céu, chega a tardinha. Espanta a passarada, a
primeira aragem da noite.
Junto com as malhadas, volta o sertanejo da lida. O chapéu de
palha desfiada esconde o cabelo lisinho. O sorriso é desfalcado de alguns dentes
e um tanto rouca sai a sua voz ao entoar a primeira moda: é hora do comércio
fechar, hora de chamar a criançada para o banho, hora de o sino badalar em
anúncio à missa; e ele não vê a hora de se aconchegar nos braços de sua Rosa.
Ele sabe que a encontrará a sua espera, com a janta quentinha à mesa, perfumada
e com o cabelo bonito para ele notar.
Rosa é dona de casa caprichosa. Levanta com as galinhas, põe
a água do café e enquanto a chaleira não chia, ela faz seu asseio. Asseio
feito, ela côa o pretinho e mistura a farinha. Cuscuz já cheirando ela acorda o
marido, vai labutar com os meninos e assim se vai a manhã. De tarde é costura até a hora de aprontar a
janta.
Depois de todo mundo recolhido é que a Rosa se deita, mas não
antes de tecer seu rosário. O sertanejo, não muito crente, ouve quietinho as
sussurradas preces de gratidão pelo pão daquele dia, pela saúde das crianças, pelo
bebê novo da vizinha, pela força nos braços para trabalhar. Passado esse
momento, o sertanejo se vira e a Rosa, que é do dia, dá lugar a Rosa que é só
dele. Rosa de doce cheiro, bom cheiro, agora vestida apenas com seus cabelos. Ele
a toma e a ama até quando o galo canta em anúncio à primeira vigília. O amor se
encerra trazendo as estrelas para mais perto e o casal junto adormece.
Ao raiar do dia, beija o sertanejo em despedida a sua amada e
parte para o trabalho acompanhado de sua viola. A cantiga agora chama-se felicidade
– versos que ele mesmo rabiscou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário