Pensa que viver de aparências é
algo exclusivo da vida privada? Ledo engano. Empresas também vivem de
aparências.
Toda organização tem sua imagem,
anseia pela construção de uma ou por sua melhora. A imagem organizacional na verdade
é uma estratégia de segmentação. O ofertante de determinada demanda, a partir
de sua inserção no mercado, escolhe como deseja segmentar-se: por indústria,
também conhecida como a de não-diferenciação (abarcar o maior número de
consumidores que puder, geralmente valendo-se da estratégia do baixo preço),
por diferenciação (o número de consumidores torna-se mais restrito, uma vez que
a adição de uma singularidade em um produto ou serviço pode encarece-lo) e,
finalmente, por concentração (um segmento é escolhido como prioridade e a este
são dirigidos todos os esforços empresariais).
A imagem, no entanto, objeto de
nosso estudo no presente momento será a aparência, a embalagem, o invólucro, em
um aspecto mais interno, apesar de os termos dos quais há pouco me utilizei
darem ideia de exterior. Cultura organizacional talvez seja o termo que aqui
melhor se aplicasse, no entanto, não desejo que este postulado receba rótulo
algum senão o seu título. Em outras palavras, desejo abordar aqui as
organizações para “inglês ver” em seus diversos aspectos, seja para denúncia do
gestor que finge investir em qualificação profissional ou a exposição do
colaborador que se especializou na arte de parecer ocupado (vadiagem
sistemática). Saliento, no entanto, que quando digo denunciar e expor faço
alusão à descrição do comportamento/atitude e não a fazer menção a este ou
aquele individuo em específico.
Quando iniciei o curso de
Administração, Recursos Humanos era a área que menos me atraía, mas por
incrível que pareça, esta tendo sido o alvo de meus melhores momentos de inspiração (!). Não me considero uma
especialista, contudo me preocupo com as pessoas. Quiçá tal altruísmo tenha
origem em minhas experiências como colaboradora. Prestei serviço em lugares que
eu simplesmente odiava, porém a precisão era o que me motivava levantar da cama
todas as manhãs. Psicologicamente, era uma prisão para mim, pois além do
salário ser uma droga, as relações interpessoais eram sofríveis. Lembro-me
sempre de Drucker que, em certa ocasião, disse a um grupo de empresários de
diversos ramos que os segmentos por eles explorados se resumiam em um só:
trabalhar com pessoas. Tem líder, por sua vez, que não enxerga isso. Sua visão
se limita aos resultados da DRE’s. Lamentável...
Sem mais delongas, conceituo as
organizações para “inglês ver” como aquelas que adotam novas concepções e
conceitos da Ciência Administrativa, no entanto, tais medidas não mudam coisa
alguma. Em outras palavras, podemos dizer que tais empresas são semelhantes aos
que seguem tendências só para parecer moderninho sem, contudo transformar nada
mais que o seu exterior. Medidas assim podem até levar seus administradores
para a capa das revistas ao passo que seu passivo trabalhista aumenta
concomitantemente ao nível do absenteísmo. E como se isso já não bastasse,
vamos lá colocar um para fazer o trabalho de três, superespecializa-los ao
ponto de não ter ninguém que o substitua e aí, como dizem por aqui: “fica tudo
lindo na Bahia”.
Já ouviram falar em lucro envenenado? Pois é,
ele existe e das empresas que tenho notícia que assim galgavam degraus faliram
ou foram vendidas.
Há também organizações que são
administradas aristocraticamente. O corpo funcional divide-se em “camadas
sociais” onde os privilégios se concentram por sobre os que ocupam o topo
piramidal e na opinião desta bacharela são as que mais se encaixam no modelo
que intitula o presente postulado. A comunicação organizacional é feita em nome
da comunidade, entretanto, tal como o corpo fala, atitudes, idem. Não adianta
frases de efeito em cartões virtuais comemorativos se apenas a nata é sujeito
dos benefícios institucionais.
Fico a imaginar se recebêssemos (mais)
pressão internacional tendente a abolir a prática empresarial em tela, tal como
foi à época do Brasil Imperial quando a Inglaterra nos ameaçou, a ponta de
espada, para que a escravidão fosse abolida. Teríamos líderes mais humanos? Haveria
menos desrespeito às normas trabalhistas? Talvez, mas a questão aqui é
cultural. Enquanto as figuras do senhor de engenho, do feitor e do escravo
estiverem em nós enraizadas, árdua e quase impossível, será a tarefa de inserção de novos paradigmas
acompanhada da completa extinção dos antigos.
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