sábado, 16 de junho de 2012

A Era do Conhecimento e a Emburratização

Na década de oitenta, Peter Drucker previu que entraríamos na era do conhecimento e isso é verdade - estamos vivendo nela, mas percebi também que há uma força trabalhando contra o avanço do saber e aqui a denominaremos de "emburratização".

Há quem possa julgar o que Drucker chamou de era do conhecimento como uma coisa contemporânea, mas a emburratização, (termo a que peço licença ao querido leitor para usa-la sem me valer das aspas tal como fiz no título) não. Ela já vem de longas datas, do tempo em que alguém (diga-se sempre) se ocupou em espalhar que o saber e o conhecer é privilégio de poucos, que a ignorância e a felicidade andam de mãos dadas, que estudar é para quem não nasceu bonito e, portanto, não pode ser artista, essas coisas.

O sabido incomoda. Basta que alguém demonstre ter um pouquinho mais de "tutano" para começar a sofrer bullyng de variadas formas. Diante disso, o geniozinho, coitado, em busca de aceitação, decide emburrecer ou se manter na média.

Como foi dito no segundo parágrafo, não são de agora as astutas manobras a fim de manter o povo na ignorância. O dominador sabe que não pode com cabeças pensantes. Vejam por exemplo o que ocorria em nosso país durante a ditadura. Quem se atrevia a pensar diferente era tachado de subversivo e tornava-se alvo de perseguição. Os estudantes de Filosofia, Sociologia ou de qualquer outra "ia" que ensine a pensar, pior ainda! Chegaram até a criar os cursos de nível médio técnico de modo a ninguém precisar (leia-se impedir, evitar...) ir a faculdade.

Refletir a respeito destas coisas me faz indagar cada vez mais que paradoxo é esse: é a emburratização andando em paralelo à indústria do conhecimento e, diga-se de passagem, que força ela tem! Ao ligar a TV, vemos as mulheres frutas, condimentos e répteis, com seus corpos esculpidos disseminando (ou ressuscitando) a cultura da mulher objeto, novelas, os realities besteiras, besteiras e besteiras e outros programas que atentam, afrontam e ofendem nossa inteligência tendo altos índices de audiência para sorte deles e infortúnio nosso. Essas coisas além de alienar, atrai outra sorte de prejuízos.

Estudar, no entanto, continua sendo pré-requisito pra se arrumar um emprego e, consequentemente, ganhar dinheiro. O mercado de trabalho, hoje mais exigente, sempre requereu de nós a qualificação. Diante disso,  continuando o raciocínio ante ao paradoxo citado no parágrafo três: milhões correm em busca do conhecimento que lhes dará o diferencial a fim de conquistar a tão almejada colocação e, diga-se de passagem, não qualquer colocação, e sim à que o esforço seja mínimo e o retorno máximo. Imagino que alguém aí do outro lado acabou de gargalhar e exclamar: "É assim mesmo!". Que se danem os investimentos a longo prazo! Queremos plantar agora e colher ontem!

Veja o que escreveu o filósofo Arthur Schopenhauer, na primeira metade do século XIX:


"Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância para a instrução e a verdade.
... E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e ganhar ares de importantes. A cada trinta anos desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas que todo o passado. É com esse objetivo que tal geração frequenta a universidade e se aferra aos livros, sempre aos mais recentes, os de sua época e próprios para sua idade. Só o que é breve e novo! Assim como é nova a geração, que logo passa a emitir seus juízos. - Quanto aos estudos feitos simplesmente para ganhar o pão de cada dia, nem os levei em conta." (A arte de escrever, Schopenhauer, 2005, L&PM Editores, pag 19)

Adaptando a passagem acima ao nosso contexto, veja se não é isso que estamos vivendo? Ainda citando Schopenhauer (2005), o que se tem em mente hoje não é a instrução e sim a informação. Busca-se os títulos. A palavra profissional tem perdido seu sentido etimológico. O bom agora é estudar para ser "doutor". Eles estão errados? Em uma análise superficial, não. Para que um saber profundo, genuíno e de qualidade em um mundo que lhe oferece em troca a massificação e a alienação? Pobre de mim e meus "textos cabeça" e que alegria a minha ter quem me leia!

Disse Jesus: "Entrai pela porta estreita porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela". Quem tem ouvidos para ouvir ouça e bem-aventurados são os que leem as entrelinhas. Do contrário, que Deus tenha misericórdia de nós.


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