segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Casa Vazia

A casa está vazia porque o amor não mora mais nela. Ele levou os móveis, mas deixou as cortinas. Elas balançam ao sabor do vento denunciando quão grande é aquele lugar, quão estreita é a habitação de um coração partido, que não sabe agora o que fazer com o tempo.

Pobre casa repudiada que um dia já foi tão amada. Seu destino agora é vagar. Que lhe importa o sol escaldante ou a chuva fina, que deixa a grama mais verde; que lhe importa o ocaso, o breve instante em que o céu se torna rubro para depois revelar o fundo escuro que se adorna de estrelas, astros estes que, na solidão, perdem a luz. Olhos daltônicos incapazes de ver as cores; lábios insípidos, fenda tão profunda em uma alma em trevas.

Lembranças dos dias felizes lhe cortam a carne, intensos açoites de algo que um dia foi e agora simplesmente não mais é: partiu, se perdeu, esvaiu-se como fumaça. A fidelidade é trapaceira, maléfica senhora, nômade, inconstante, mentirosa e manipuladora no coração que sangra com valores distorcidos, que expõe o que lhe abunda, tal como escrito está no livro do Rei, que comporta milhares de folhas e oxalá ajuntarmos  nós tão excelente tesouro para que vivamos.

Vida - formosa expressão; Biologia, Divino fôlego; conceitos. A casa vazia não sabe o que quer, pois morta deambula. Seu choro lhe retém as palavras cala seu grito na garganta, mas não lhe priva dos sentidos e tampouco dos ruídos; seus membros são pesadas correntes; seus instantes de paz, fugazes. Em torpor, seu eu se biparte. Futuro não há.


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